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# As Bruxas de Salem, uma hedionda lambança histórica.

Fique por dentro de um dos eventos mais macabros da história estadunidense. Superstição,  histeria coletiva e julgamentos sumários no pequeno povoado de Salem.

Exame de uma Bruxa; T. H. Matteson, 1853.

Diferentemente da esmagadora maioria das colônias do continente americano, que serviam apenas de territórios para a exploração de suas metrópoles (Espanha, Portugal, França, Holanda e, até mesmo, Inglaterra), dez das Treze Colônias Britânicas tiveram uma colonização apenas com interesses de povoamento: New Hampshire, Massachusetts, Nova Iorque, Rhode Island, Connecticut, Nova Jersey, Pensilvânia, Maryland e Delaware, e o distrito de Maine.

Isso aconteceu pelo seguinte fato, como esses territórios não dispunham de terras e climas propícios ao cultivo de culturas topicais (muito valorizadas na época), nem de minérios valiosos como ouro ou prata, a Inglaterra não conseguiu criar colônias com objetivos mercantilistas nestes locais e por isso acabaram por deixá-los quase abandonados; a chamada negligência salutar.

Sendo assim, as sociedades ali formadas eram produto da migração de colonos que viam à América em busca de uma nova vida. Principalmente grupos religiosos descontentes (como os presbiterianos e os quakers, que resolveram criar na América do Norte uma nova sociedade de hábitos mais simples e liberais), além de camponeses desempregados (por perda de suas terras na Inglaterra devido aos “Cercamentos”) e pessoas perseguidas pela “moral”  britânica.

Mapa da 13 Colônias Britânicas na América do Norte (em azul, o território atual dos EUA).

A Política de Negligência Salutar dava uma certa liberdade aos colonos, tanto economicamente, quanto politicamente. Assim, constituíram-se as primeiras pequenas propriedades familiares e, por conseguinte, vilas e povoados. As Treze Colônias foram fundadas entre 1607 e 1733 , sendo Virgínia a primeira e a Geórgia a última delas, muito embora a Grã-Bretanha tivesse outras colônias na América do Norte.

Em 1626, na Província da Baía de Massachusetts, próximo à foz do rio Naumkeag, onde antes fora um antigo vilarejo indígena, foi fundado um povoado de mesmo nome por um grupo de pescadores liderados por Roger Conant, vindos do Cabo Ann - um vilarejo situado a alguns quilômetros acima daquele local.

Três anos após fundado, o povoado de Naumkeag foi renomeado para Salem, uma alusão à cidade de Jerusalém citada em Genesis-14:18 com tal e relacionada com a palavra hebraica Shalom, que significa paz. Os colonos Puritanos pretendiam fazer de Massachusetts uma Nova Israel no mundo. Após 66 anos de fundado, em 1692, aquele povoado seria palco de um das mais bizarras cenas da história americana.

De acordo com relatos, tudo começou no inverno de 1691, na casa do Reverendo Parris, onde Tituba, uma escrava vinda da ilha Barbados, contava histórias vodu e fazia adivinhações para a filha do reverendo, Elizabeth Parris de nove anos,  sua prima, Abigail Willams de onze, e às amigas delas.

Com o passar do tempo, as meninas começaram a ter desmaios, acessos de melancolia, adotavam posturas e gestos insólitos (como blasfêmias, gritos, ataques apoplécticos convulsivos e estados de transe) e tinham visões. Incapazes de determinar qualquer causa física para os sintomas e comportamentos, os médicos concluíram que as meninas só poderiam estar sob influência de Satanás. Desde a década de 1970, suspeita-se que esse fenômeno tivera sido associado à cravagem-do-centeio, um fungo que até hoje ataca as plantações e que, se consumido, pode causar gangrenas, dores de cabeça, contrações musculares, vômitos, vertigens e alucinações.

O fato é que, influenciadas pelas histórias de Tituba e movidas por um fanático sentimento religioso (fomentado pela educação puritana), acreditaram estar piamente padecidas de um sofrimento demoníaco e iniciaram um período de terror sobre a população daquele pequeno vilarejo. Fervorosos como eram, os líderes eclesiásticos também acreditaram que aqueles sintomas eram verdadeiramente obra do diabo. Orações e jejuns comunitários foram organizados pelo Reverendo Samuel Parris, pai de Elizabeth e tio de Abigail Willians.

Foi uma questão de tempo para que aquele ocorrido se espalhasse pela comunidade e começassem a surgir novos casos de jovens apresentando o mesmo quadro. Tornou-se uma verdadeira “febre” entre os jovens daquele local possuírem sintomas de possessão demoníaca.

A esta altura o inverno já tinha cedido lugar à primavera, infortúnios naturais foram associados ao diabo através de certos habitantes da aldeia. De acordo com as teorias da época, o diabo só podia operar através de alguém com a cooperação dessa pessoa. Alguém que tivesse feito um pacto com o diabo. Alguém que fosse uma “bruxa”.

O Julgamento de George Jacobs, 05 de agosto de 1692;
T. H. Matteson, 1855. (Pintura a óleo.)

Para descobrir a identidade da ou das supostas bruxas, Jonh, um índio, assou um bolo feito com centeio e urina das garotas enfeitiçadas. As adolescentes afligidas pelo “mau” e pressionadas a identificar a fonte de suas aflições, acusaram membros adultos de as perseguirem e as atormentarem. Tinham  fantasias bizarras com essas pessoas (que, a priori, tinham postura respeitável) e afirmaram que as mesmas estravam envolvidas em atividades sinistras com Satanás. De início, nomearam três mulheres: Tituba (a escrava de Barbados), Sarah Good e Sarah Osborne.

Em 1º de março, os magistrados John Hathorne e Jonathan Corwin examinaram Tituba e as outras duas mulheres na casa de reuniões de Salem. Tituba confessou que era feiticeira praticante. Embora Osborne e Good tenham alegado inocência, Tituba confessou ainda ter visto o Diabo, o qual aparecia para ela "às vezes como um porco e às vezes como um grande cachorro" e testemunhou que realmente havia uma conspiração de bruxas em Salem.  

Nas semanas seguintes outras pessoas da cidade testemunharam que tinham sido prejudicados pelas bruxarias e, dando continuação à caça às bruxas, foram feitas acusações contra diversas pessoas, principalmente mulheres cujo comportamento estava perturbando de alguma maneira a ordem social e convenções do tempo.

Depois a coisa se propagou de forma descontrolada. Foram ‘descobertas’ ‘bruxas’ em Beverly, Topsfield, Andover, Ipswich, Lynn e virtualmente em todas as cidades e aldeias do Condado de Essex. Assentou-se sobre aquela região uma histeria coletiva em temor às bruxas e praticas de feitiçaria, ninguém estava a salvo de acusação, inclusive religiosos.

Os primeiros julgamentos começaram em junho, e Bridget Bishop foi enforcada depois de ter ficado encarcerada desde abril. Os acontecimentos sucederam-se com rapidez. Em julho, Rebecca Nurse, Sarah Good, Elizabeth How, Sarah Wild e Susanna Martin foram enforcadas.

Os julgamentos de agosto consideraram culpados John Willard, John e Elizabeth Proctor, George Jacobs, Martha Carrier e o Reverendo Géorge Burroughs. Todos foram executados, exceto Elizabeth Proctor, que estava grávida e teve sua execução suspensa até nascer o bebê.

Os julgamentos de setembro mandaram para a forca Martha Cory, Alice Parker, Ann Pudeator, Mary Esty, Margaret Scott, Mary Parker, Wilmot Reed e Samuel Wardwell. O marido de Martha Cory, Giles Cory, teve morte por esmagamento sob o peso de pedras de acordo com o bárbaro costume medieval de ser comprimido por rochas em uma tábua sobre seu corpo até morrer. Ele levou ao total 3 dias até sucumbir a morte!

Os julgamentos de Tituba e outros foram efetuados ante o juiz Samuel Sewall. Cotton Mather, um pregador colonial que acreditava em bruxaria, encarregou-se da acusação.

Quando aquele hediondo verão terminou, 20 pessoas tinham sido executadas, mais de uma centena de pessoas estavam ainda aguardando julgamento, e várias centenas mais tinham sido acusadas.

Finalmente, cabeças mais frias começaram a predominar. Increase Mather pregou em Cambridge que a questão de provas aceitáveis como evidência de “Feitiçaria” assentava-se em bases muito duvidosas e precárias, sobretudo a noção de evidência espectral, ou a habilidade do diabo para assumir a forma de alguém na comunidade.

Embora não negando que o diabo podia assumir a forma de um homem ou de uma mulher, era bastante ‘difícil’ ‘provar’ que ele ou ela tinha efetuado o pacto inicial com o diabo. Não podia o diabo assumir igualmente a forma de uma pessoa inocente? Algumas pessoas estavam começando a pensar que sim.

Finalmente, Increase Mather argumentou ser preferível deixar uma “bruxa” escapar à execução do que dar a morte a dez pessoas ‘inocentes’. Seus argumentos levaram a melhor e a Caça às Bruxas cessou pouco depois. O tribunal foi dissolvido pelo Governador Philips em 29 de outubro de 1692.

Até hoje a cidade de Salem é marcada pela caça e julgamentos às bruxas, tornando-se famosa por isso. Contudo, a cidade teve também outras razões para entrar na história dos Estados Unidos, como o fato de ter sido um importante porto comercial. Segundo o censo de 2000, a cidade tinha uma população total de 40.407 habitantes. Juntamente com Lawrence, forma a sede do Condado de Essex.

Escrito e editado por Leandro Lima, baseado em pesquisas pelos sites: Wikipédia, Bruxas.net, Internext e Super on-line.

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